Sombra e luz em platão
Ao questionar o porquê de tantos pensadores utilizarem o modelo da visão como metáfora do conhecimento, e não os outros sentidos humanos, Lebrun questiona se a metáfora da visão é interpretada do mesmo modo em todos os autores.
Ele analisa e diferencia então a interpretação da “visão” entre Platão e Descartes. Lebrun começa analisando que a visão para Descartes pode ser definida como intuição, no sentido de que uma mente atenta “se concentra de tal forma sobre um objeto simples que este lhe aparece plenamente manifesto”. A visão seria uma espécie de “saber imediato cuja certeza é tão forte que ele se garante por si próprio”. Partindo dessa evidência o autor examina três pontos que distinguem as interpretações de “visão” dos dois autores.
Primeiramente, para Platão o olhar é dialético, “capaz de dominar com o olhar o conjunto dos saberes (formas) e de penetrar em suas conexões” o oposto da “intuição” de Descartes pelo fato de abranger uma multiplicidade, que diferencia da dissociação de “coisas simples” de um “especialista”, um “espírito perspicaz”, que é capaz de distinguir essas coisas simples que está à vista de todos, mas ninguém lhe dirige a atenção, ninguém realmente vê.
Em segundo lugar, o ver já é garantia de validade. Se o “espírito perspicaz” consegue discernir essas coisas simples com um olhar atento, não necessita de um segundo olhar, o objeto já está compreendido. Para Platão a ideia de visão não exclui a dúvida, uma tese é certa quando resiste a todas as tentativas de derrubá-la. De certa forma isso é impossível, porque não é praticável saber se uma ideia é irrefutável em qualquer momento, ainda que se leve anos.
A principal diferença, contudo, está no fato de que Descartes determina a razão humana como um foco luminoso difunde a luz “cabe então a mim, seu detentor, projetar essa luz de modo apropriado, a fim de produzir um saber perfeito”. O modelo platônico é completamente diferente, o olho,