SOCRATES, O BANQUETE
Fedro, recorrendo à autoridade de Hesíodo, dirá que o Amor é dos deuses mais antigos, que sequer possui genitores e que é, para nós, a causa dos maiores bens, pois sem ele, não há com se produzir grandes e belas obras. O Amor deve dirigir a vida de todos os homens que quiserem vivê-la nobremente; é também responsável por algo que nem a riqueza, nem as honras nem a estirpe pode incutir tão bem: “A vergonha do que é feio e apreço ao que é belo”.
Fedro se refere ao que os antigos gregos denominavam aidós (pudor, vergonha, respeito), que faz com que aquele que ama tema ser surpreendido numa atitude aviltante, sentindo-se constrangido diante do amado: “todo homem que ama, se fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofrê-lo de outrem sem se defender por covardia, visto pelo pai não se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por ninguém mais, como se fosse visto pelo bem amado”. Para Fedro, o Amor, ao tornar-nos corajosos, é fonte de heroísmo e inspiração da moral. Afortunados são os que amam e são correspondidos. E amar, é ainda mais divino que ser amado.
Mais realista, “não é um só”, objeta Pausânias que, cingindo a unidade do Amor, subdivide-o e (não os excluindo) hierarquiza-os imediatamente: Afrodite não é só uma, há a mais velha, Urânia (Celestial) e a Pandêmia (pan = todos e demos = povos). Nesta última, amam mais o corpo que a alma. Afrodite Pandêmia (a Popular, vulgar) inexoravelmente é vencida pelo tempo (Chronos): “Com efeito, ao mesmo tempo em que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava “alça ele o seu vôo” (citando Homero), sem respeito a muitas palavras e promessas feitas. Ao contrário, o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida,