Sobre augusto dos anjos
As Razões da Angústia de Augusto dos Anjos
Muito se tem escrito sobre Augusto dos Anjos. A crítica literária já lhe realçou a obra em sua forma estética, nos moldes da velha orientação impressionista, que é de todas a menos operante. A crítica genética já lhe esvurmou a alma em busca de uma explicação para as suas anomalias psíquicas. Não me parece, contudo, esteja o poeta revelado por inteiro em todos os reflexos de sua alma. Nalgum ponto, senão em mais de um, é possível que se tenha conservado à distância da crítica literária, inatingível também ao bisturi dos que tentam dissecar o interior humano, no que há de mais sutil e imponderável.
Difícil tarefa é essa de querer conhecer a alma dos nossos semelhantes, quando, na verdade, não conhecemos sequer a nossa. Deste modo, já que não podemos penetrar com tanta intimidade o mundo subliminal, paremos reverentes à porta do templo, numa atitude de respeito e reflexão, desejosos de, ao menos, poder conhecer a árvore pelo fruto. Em Augusto dos Anjos não há que procurar o autor fora de sua obra, isto é, o eu fora do Eu. O autor revela o homem e ambos estão por inteiro em sua obra. Sua personalidade singular ali se projeta, o que de alguma forma facilita o trabalho de interpretação. Por conseguinte, não vejo documento mais preciso para conhecer o autor que a sua própria obra, sobretudo pela sinceridade com que nela está fotografado.
Interpretar cada verso isoladamente não é tarefa que se enquadre no plano deste trabalho. Fazer o elogio do poeta, realçar a força de sua inteligências manifestada na originalidade do estilo e na tônica de um materialismo filosófico, que o não convencia de todo, já outros o fizeram com maior ou menor adequação. Só o estudo do conjunto poderá explicar os matizes de um pensamento que tinha por norma ocultar-se em metáforas, quando não irrompia ovante para logo se perder na dúvida. É preciso, pois, acompanhá-lo na trajetória desse pensamento tumultuário, em