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A ÚLTIMA QUIMERA
EM
DANIELA KERN*
RESUMO
Este artigo analisa como Ana Miranda, em A última quimera, constrói a personagem Augusto dos Anjos, visando apontar algumas técnicas narrativas das quais a romancista se vale. Na presente análise, com a personagem ficcional
Augusto dos Anjos, são cotejados tanto o eu lírico do poeta quanto o eu presente em sua correspondência pessoal e a imagem do poeta que aparece nas memórias de amigos e em sua fortuna crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Romance biográfico, construção de personagem, Augusto dos
Anjos.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
AUGUSTO DOS ANJOS
Há muito o meu espírito não goza a doce emoção de receber e de ler uma cartinha sua. AUGUSTO DOS ANJOS
Ao transformar o escritor – aquela figura que já entrou para a história seja pelos méritos de sua obra, seja pelas peculiaridades de sua personalidade, seja por ambos os fatores – em personagem de romance, o romancista depara-se, inevitavelmente, com a complexa tarefa de reunir, em uma voz única, as quase sempre dissonantes vozes atribuídas a
* Pesquisadora PRODOC junto ao PPG de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, RS).
E-mail: danielapmkern@yahoo.com.br
Recebido em 8 de maio de 2008
Aceito em 1º de junho de 2008
esse mesmo escritor por diversas fontes: a correspondência pessoal, os relatos de amigos íntimos e familiares, a fortuna crítica, os documentos legais e, sobretudo (mesmo quando o escritor é dos que praticam distantes e objetivos narradores em terceira pessoa), a obra literária de sua autoria. Foi com problemas dessa ordem que Ana Miranda teve de lidar ao escrever A última quimera, romance narrado em primeira pessoa, que reconstitui a vida e a morte do poeta paraibano Augusto dos Anjos, a partir das lembranças de um amigo de infância imaginário: “Nascemos