Ser animal é...
Ser animal é...
João Carlos B. Sousa – Universidade Federal de Pernambuco
“Talvez o mais surpreendente tenha sido o grau de paixão despertado ao longo da discussão” (p.130). Com essa frase na parte inicial do texto, gostaria de fazer uma análise que foge, de início, do objeto central do texto, o que é ser animal, para em seguida retomá-la. Quando o autor, sensivelmente, indica que um fator emocional está fortemente vinculado à discussão do tema envolvido, ele está partindo de um pressuposto que, por si só, já alça a sua análise, ou o seu olhar para os paradigmas analisados, para um patamar diferente, pois supõe um dado não cartesiano para o conhecimento que se propõe produzir. Podemos antecipar que o autor tem o cuidado de colocar esse ‘fator extra-científico’ (não racional por tanto?), como chave para, juntamente com um olhar científico e transdisciplinar, poder-se caminhar rumo a conclusões futuras. Uma passagem importante do texto é quando ele realça os “problemas de definição de fronteiras (...) entre animais humanos e não humanos” (p.130), e, comparando-os a mitos e “seguindo o conselho de Lévi-Strauss” (p.132), indica que uma melhor compreensão desses problemas (“mitos”) pode ser atingida através “de uma leitura simultânea de suas muitas versões” (idem), ou seja, ao comparar o problema da fronteira com um mito ele sugere que a busca por esse entendimento seja algo da ordem idealista, racional, algo da esfera, restritiva, cultural, o que impõe limites. Nos faz refletir, inclusive e sobretudo, a cerca do que é ser animal a luz da dicotomia cultura/natureza mas que, paradoxalmente, precisa pensar-se ‘fora’ da cultura, pois precisa defini-la, ou não, como produto do animal humano, e também ‘fora’ da natureza, pois uma definição que se propõe ser racional não pode estar vinculado àquilo que é