Senso comum e Bom senso
As expressões “senso comum” e “bom senso” freqüentemente são usadas como se tivessem a mesma significação. Ambas costumam designar um tipo de sensatez que se encontra no horizonte do homem do povo: uma percepção da realidade que não necessita de conhecimentos aprofundados, mas é legítima e dispõe de força própria, porque está apoiada numa experiência coletiva, consensual.
O filósofo italiano Antonio Gramsci, contudo, propõe uma distinção interessante. Para ele, o “senso comum” expressa uma postura predominantemente passiva; cada sujeito se limita a adotar critérios, comportamentos, modos de sentir e de pensar que predominam na sua sociedade ou no seu grupo. E o “bom senso” é o movimento espiritual pelo qual o sujeito assume uma disposição crítica e, com os instrumentos de que dispõe, enfrenta o desafio de refletir por conta própria sobre as coisas.
O “senso comum”, então se inclina para a adaptação ao meio, às circunstâncias. E o “bom senso” abre caminho para o uso transformador dos conhecimentos, para o questionamento das condições existentes. Para inovações.
De acordo com a distinção elaborada por Gramsci, o “senso comum” incorpora elementos difusos de alguns conhecimentos adquiridos, porém tende a dissolvê-los num sistema ideológico impregnado de resignação e conformismo. Instalado nele, o indivíduo enquadra seu pensamento na moldura dos preconceitos da sua cultura, da média das idéias constituídas do seu grupo. E não se aventura a elevar-se ao nível das idéias constituintes, quer dizer, à esfera dos pensamentos novos sobre coisas novas.
O “bom senso”, ao contrário, é por sua própria natureza um tanto desconfiado, inquieto, e não se satisfaz como que lhe ensinaram, porque tem consciência de que o conhecimento precisa ser sempre enriquecido, revisto e aprofundado.
Compreende-se, por conseguinte, que algumas expressões do