Senhorio e Feudalidade
[...] À primeira vista poder-se-ia pensar que os primeiros Carolíngios tivessem encarado esta transformação social com grande desconfiança. Na verdade, sem dúvida desde Pepino, o Breve, seguramente desde Carlos Magno, os soberanos favoreceram conscientemente a vassalagem.
[...] Os laços vassálicos eram apenas laços privados que os representantes régios, por conseguinte, teriam podido ignorar no exercício das suas funções. Ora, pelo menos desde o reinado de Carlos Magno, os reis quiseram fazer da vassalagem um instrumento de governo.
[...] Um só estrato social tem pois importância para o rei, a aristocracia fundiária. E ele julgou que, ligando-a solidamente a si, dominaria, com ela e por intermédio dela, o Ocidente inteiro. Faltava ainda impor a autoridade real ao conjunto deste estrato, utilizando de duas maneiras o laço de vassalagem. Em primeiro lugar, multiplicando na medida do possível o número dos vassalos directos do rei, aos quais seriam concedidos benefícios importantes e privilégios. Depois, pressionando os outros aristocratas — portanto os proprietários fundiários médios ou modestos — a entrar na vassalagem dos vassalos reais ou vassi dominici. A sociedade aristocrática ficaria assim enquadrada numa hierarquia de três níveis o rei, os vassi dominici, os vassalos destes), ligando-se estes níveis uns aos outros «por cadeias de juramentos de que o soberano detinha uma ponta, e que esperava utilizar para aumentar o controlo sobre os seus súbditos» E. Perroy), na impossibilidade de poder retirar um efeito prático dos juramentos de fidelidade exigidos em diversas ocasiões a todos os homens livres.
[...] Em matéria política e administrativa, a utilização da vassalagem foi igualmente considerável, mas muito perigosa. Desenvolvendo um costume criado no reinado de seu pai, Carlos Magno colocou sob a sua vassalagem, quando ainda o não estivessem, condes e prelados. Só sob Luís, o Pio, é que veio a generalizar-se