Senhora
Senhora, na minha opinião, é uma das obras mais audaciosas de José de Alencar e talvez uma das pioneiras da literatura brasileira nos idos de 1800. Para os padrões da época, Aurélia, a protagonista, era um escândalo. Acho-a genial! Embora discorde da vingança como método para curar feridas, não dá para fingir que fico indiferente ao fato de uma mulher, em pleno século XIX, tomar as rédeas da própria vida. Ainda mais numa sociedade onde as mulheres mal existiam como indivíduos e mal eram consideradas cidadãs.
Aurélia encara as adversidades do destino e muda o mundo ao seu redor, ao seu bel prazer. Ela não se rende, faz com que se rendam a ela. É uma das protagonistas mais bem resolvidas da nossa literatura. Ficar chorando pelos cantos? Que nada, ela vai à luta. Duvidam? Pois Aurélia, assim como a Capitu, de Machado de Assis, já originou tese de doutorado só pelo seu comportamento libertário. E como não!?
O romance de Alencar começa mostrando a vida simples de uma moça que é órfã de pai e cuja mãe costura para fora para garantir-lhes o sustento. Essa moça, Aurélia, é apaixonada por Fernando, um bon vivant que a namora e depois a abandona, porque está a cata de uma noiva rica em quem possa dar o golpe do baú. A mãe de Aurélia morre e ela se vê sozinha no mundo e com o coração aos pedaços por uma desilusão amorosa das brabas. Só que, o destino sorri e, algum tempo depois, ela descobre que seu avô era milionário e lhe deixou uma grande fortuna. É aí que Aurélia mostra que tem sangue nas veias.
A ex costureirinha pobre toma posse da fortuna, aprende etiqueta, piano e tudo mais que uma dama precisava saber naqueles tempos aristocráticos e, alguns anos depois, quando Fernando está sem eira nem beira, dá o golpe fatal. Manda o tutor acertar seu casamento com o ex-desafeto por cem contos de réis. Ele se casa sem saber quem é a sua “senhora”, ou seja, a mulher que o comprou. Só depois, descobre que é Aurélia, a pobre