senhor dos aneis
As folhas das árvores cintilavam, e todos os seus ramos pingavam: o sereno frio fazia com que o capim ficasse cinzento. Na quietude soberana, barulhos remotos pareciam soar por perto e salientemente.
A floresta era sinistra. Tudo nela era muito vivo e ciente do que poderia estar acontecendo. E as árvores não gostavam de peregrinos, elas vigiavam as pessoas. Geralmente, ficavam satisfeitas só em vigiar, enquanto durava a luz do dia, e não faziam muita coisa. De vez em quando uma árvore mais hostil poderia derrubar um galho, ou levantar uma raiz, ou agarrar alguém com um ramo longo. Mas à noite as coisas eram mais alarmantes.
Diante deles só se via as hastes das árvores de talhes e formatos incontáveis: direitos ou tortos, sinuosos, acaçapados, espessos ou finos, escorregadiços ou ásperos e com muitos ramos, sendo que todos eram verdes, ou cheios de musgo, ou lodo.
Abriram passagem por entre as árvores desviando os muitos bulbos sinuosos e embaraçados espalhados pelo solo. Não existia vegetação rasa. O chão delineava uma elevação e conforme prosseguiam, tinham a impressão que as árvores iam ficando mais elevadas, mais obscuras e a floresta mais sombria. Não se escutava nenhum barulho, exceto um aleatório pingar de umidade, pendendo das folhas imóveis. Até então não se escutava nenhum murmúrio e os ramos não se mexiam, mas eles tinham a impressão de que eram avistados com reprovação. A impressão foi ficando cada vez mais intensa, até que sem se darem conta, estavam olhando depressa para o alto, ou para trás por sobre os ombros, como se pressentissem um golpe inesperado.
Enquanto caminhavam, a floresta ia se tornando mais clara, inesperadamente, deparam-se com uma clareira, e se viram numa vasta área circular. Avistava-se o céu, claro e azul, o que os maravilhou, pois sob a cobertura da floresta não conseguiram ver o dia