Sei la
Apesar da fatalidade, amorte também tem seus caprichos. E foi nela que o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel da Literatura buscou o material para seu novo romance, As intermitências da morte - obraque descreve a realidade de um país em que as pessoas param de morrer.
Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender suas atividades.
E o que no inícioprovoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema.
Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder "passar desta para melhor". Os empresários do serviço funeráriose vêem "brutalmente desprovidos da sua matéria-prima". Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não para de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise.O primeiro ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque "sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja".
As repercussões sociais, políticas,econômicas e ontológicas do recesso da morte é brilhantemente relatada em detalhes. Reflete-se sobre a essencialidade da morte para a vida, bem como da arte para o ideal ético humanista. No percurso, oautor retrata ricas experiências vividas por uma nação diante da suspensão temporária da finitude humana. Dentre elas, a superlotação dos hospitais, a crise financeira da previdência social, asfalências dos planos de seguro de vida e dos negócios funerários, bem como os impasses do governo, da Igreja e da sociedade para lidar com o insuportável da vida eterna.
Um por um, ficam expostosaos vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os