“A vida na fazenda se tornara difícil... No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido...” “Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito” Vidas Secas, 1938, Graciliano Ramos Os cientificistas atribuem às mudanças climáticas. Os gestores e governantes são responsabilizados pela inépcia crônica. Os mais conscientes relacionam ao desperdício da população. Os místicos culpam os humores de deuses e santos. Independentemente das hipóteses, explicações, justificativas e argumentos, algo até pouco tempo impensável para a grande maioria está posto: a crise hídrica é uma realidade, a segurança hídrica de boa parte do país está comprometida. Muito se questiona como será possível se adaptar, contornar, “sobreviver” sem a abundância de água com a qual a população do estado sempre foi brindada, “hidratada”. Menor duração do banho, menos perda na cozinha... menos desperdício, mais racionalidade, mais rigor na fiscalização e na taxação. Entretanto, muito pouco, ou quase nada, vem sendo discutido em relação a um aspecto muito mais relevante do que as consequências da restrição à lavagem dos automóveis: o impacto da tão alardeada (e inesperada?), mas agora real, crise hídrica sobre a saúde pública, sobre os mais diversos prismas. Em uma perspectiva mais “míope”, mas não menos importante, podemos imaginar os riscos à saúde das pessoas, “simplesmente” em decorrência do impacto de uma menor oferta de água sobre uma das principais medidas de prevenção e controle de doenças: o hábito da lavagem de mãos. Sabemos que essa prática figura como eficiente meio de prevenção de uma enorme gama de doenças: diarreias, conjuntivites, hepatites e gripe. Banhos não tomados podem se associar a uma infinidade de afecções e infecções dermatológicas. Isso sem mencionar a prevenção de disseminação de agentes