Santo Agostinho
Donde vem que, sem Deus, não há moral digna desse nome. Ainda assim, homens existem que excogitam inventar uma moral sem Deus; eles a tomaram da natureza, dizem. Ponhamos a mão na massa. A natureza é boa, pois que saíra das mãos de Deus, e a moral conforme a natureza nada mais é que a moral conforme a Deus. Todos os verdadeiros filósofos reconhecem que a expressão mais límpida da lei natural está no Decálogo. Assim, a verdadeira voz da verdadeira natureza não pode ser senão a voz de Deus, ao exarar os Dez Mandamentos. A inteligência da natureza leva diretamente a Deus, seu autor. Contudo, há homens que não querem a Deus, o Decálogo, e ainda assim querem a moral. Onde eles a encontrarão? E, supondo que a encontrem, como a imbuirão da autoridade e da sanção, duas coisas sem as quais não se poderia ter moral? A natureza que recusa a Deus é a natureza decaída: e é nela, natureza decaída, que certos homens de nosso tempo querem fundamentar a moral. É a moral do interesse, ou do prazer, ou da vaidade: em suma, é o que a revelação designa sob o nome dea tripla concupiscência; esta, sendo a fórmula das inclinações da natureza decaída, constitui-se para alguns a regra de dever, a lei moral. Isso é pura e simplesmente a inversão de toda a moral. Já há muito que nós, cristãos, conhecemos a moral da natureza. Estigmatizara-a o apóstolo São Paulo com estas palavras enérgicas: