Santo agostinho
“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez. Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e se de Vós. Tocastes-me, e ardi no desejo da Vossa paz”1. (Santo Agostinho)
I. Introdução Quero iniciar este artigo com a afirmação de que toda ordem da sociedade proclama uma ordem cognitiva subjacente, constituindo a realização político-social da ordem da realidade tal como é compreendido (e até o ponto em que pode ser compreendida) num dado contexto que é, ao mesmo tempo, o quadro e o molde da existência humana; nos quais sua vontade e organização se exercitam numa relação de possibilidades e limites. Assim, a s várias sociedades criam noções mesmas de “realidade” e “verdade” como forma de legitimar e dirimir seus conflitos internos por meio de doutrinas, instituições, leis e sistemas políticoeconômicos2. Em Santo Agostinho observamos a inexistência de uma síntese filosófica fora do contexto teológico. A inquietude é tema tipicamente agostiniano, um aspecto permanente de seu desenvolvimento. Para ele vida e pensamento constituem uma única coisa; seu pensamento é uma interpretação de sua vida, e sua vida não cessa de nutrir-se na Bíblia e na filosofia. Familiarizou-se com o pensamento da antiguidade, sobretudo com os neoplatônicos, neopitagóricos e estóicos, com os epicureos e acadêmicos. Em razão disso, além de Platão, conhecia as obras de Virgílio, Terêncio e Cícero, entre muitos outros. Santo Agostinho fundamentou-se filosoficamente no pensamento