Santiago
Centro de Ciências Humanas
Departamento de Filosofia e Ciências Sociais
Faculdade de Filosofia
Filosofia e Cinema
Profª Drª Angela Donini
Barbara Schneider
Santiago
Rio de Janeiro
2013
Vemos, sofremos uma poderosa organização da miséria e da opressão. E não nos faltam esquemas sensório-motores para reconhecer tais coisas, suportá-las ou aprová-las, comportando-nos como se deve, levando em conta nossa situação, nossas capacidades, nossos gostos. Temos esquemas para nos desviar quando é desagradável demais, para nos inspirar resignação quando é horrível, para assimilar quando é belo demais [...] percebemos apenas o que temos interesse de perceber em função de nossos interesses econômicos, de nossas crenças ideológicas, de nossas exigências psicológicas. Portanto, comumente, percebemos apenas clichês. Mas, se nossos esquemas sensório-motores se bloqueiam ou se interrompem, pode aparecer um outro tipo de imagem: uma imagem ótico-sonora pura [...] que faz surgir a coisa em si mesma, literalmente, em seu excesso de horror ou de beleza, em seu caráter radical ou injustificável, pois não tem mais de ser “justificada”, como bem ou como mal [...]
Gillles Deleuze. L’image-temps (I-T). Paris: Minuit, 1985, p. 31-2
Santiago é um documentário de João Moreira Salles, cujas imagens colhidas em 1992, estiveram guardadas por vinte anos, quando o cineasta retoma o filme, para enfim montá-lo.
Santiago Badarotti Merlo (1912-1994) foi mordomo da família Salles, a qual serviu por 30 anos. Argentino de nascimento, ascendência espanhola, Santiago era fluente em seis idiomas, homem de vasta cultura e hábitos refinados, adquiridos pela convivência de uma vida inteira dedicada a servir à aristocracia.
Logo após terminar a faculdade, João decide rodar um documentário cujo personagem principal seria Santiago que, àquela época, já estava aposentado, morando só num apartamento no Leblon.
Já