TARTA DE SANTIAGO
O casamento feliz da amêndoa com o ovo, celebrado pelo açúcar, gerou algumas obras-primas da doçaria universal. Textos antigos da bacia do Mediterrâneo ressaltam o sucesso da união. Mas, atualmente, nenhuma receita supera a Torta de Santiago em prestígio internacional. Sobre uma base de massa, colocam-se amêndoas trituradas, ovos, açúcar, canela e casca de limão. O resultado é uma elaboração que equilibra os aromas das amêndoas e dos ovos. Se for industrializada, a textura se revela consistente e granulada, podendo ser consumida em até três meses após o preparo; artesanal, apresenta-se macia, e dura uma semana. O sabor de ambas é literalmente divino. Ninguém explica como o doce surgiu, se foi por obra de um religioso ou peregrino que percorreu o Caminho de Santiago, a longa rota devotiva, com opções de trajeto, que atravessa o norte da Espanha a partir da fronteira com a França, extasiando criaturas dos mais longínquos recantos do mundo. O destino é sempre Santiago de Compostela, na atual região autônoma da Galícia. Sua majestosa catedral barroca, construída entre os séculos 11 e 12, guardaria os restos mortais de São Tiago Maior, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo. O Novo Testamento diz que o rei Herodes Agripa (At 12,2) mandou decapitá-lo no ano 44 d.C. Desde a Idade Média, a cidade oferece a Torta de Santiago. Os peregrinos vão embora levando-a como souvenir, especialmente no dia 25 de julho, festa do santo. Chegando em casa, saboreiam-na enlevados, até porque na superfície do doce se encontra a silhueta da cruz da Ordem dos Cavaleiros de Santiago, delineada com açúcar de confeiteiro.
Nem sempre a elaboração recebeu a designação atual. Originalmente, chamava-se bizcocho de almendra. Aparece desse modo em relato de 1577, sobre a visita do inspetor d. Pedro de Portocarrero à Universidade de Santiago de Compostela, para investigar (e comprovar) denúncias de excessos alimentares dos professores ao concederem graus