Salvador Giner
Prefacio, Salvador Giner, pp. 9-10.
p. 9 A democracia não é apenas uma ordem política. É também, e muito principalmente, uma cultura e, talvez, até uma civilização.
p.10 É o universo da cidadania, das suas convicções e responsabilidades, do seu civismo e da sua fraternidade. Sem ele não há democracia.
Cultura y Democracia, Amélia Valcárcel, pp. 113-35
p.114 A unidade da vontade de um grupo no qual cada um espera cumprir os seus objectivos é impensável; portanto, em primeiro lugar é necessário forjar essa vontade sobre uma tábua de mínimos que se constitui em fundamento. A estrutura [passa para 115] subjacente da democracia é um contrato em que cada um renuncia a algo e obtém algo.
p.116 Um estado que consiga conservar a paz interna e se governo pela regra da maioria é uma democracia. Ora bem, é uma democracia imperfeita. Tal sistema necessita de um horizonte de coesão de valores, uma “religião civil”. Devemos este último apontamento a Rousseau. A democracia não é apenas um modo, um procedimento entre outros, de pôr a funcionar a vontade colectiva. [passa para 117] Significa em si mesma a admissão de valores que estão ausentes ou têm pouco peso noutras formas de governo.
p.131 “Se houvesse mais cultura”, ouve-se tanta gente dizer cada vez que enfrenta uma situação de desencaixe normativo que lhe desagrada. O certo é que numa democracia estável e rica há bastante cultura, comum e de elite, mas a que importa a que faz essa invocação é habitualmente a que se traduz em hábitos de acção mútua, em civismo. As relações entre a democracia e a [passa para 132] cultura levam-nos de novo à cultura da democracia. Nela os direitos supõem deveres, no geral, deveres de civismo. A queixa fácil por falta de cultura refere-se à falta de hábitos de civismo.