Saiba O Que O Karoshi
O mundo ocidental assistiu encantado à ascensão econômica nipônica nos anos 70 e se rendeu à eficiência japonesa quando as corporações asiáticas revolucionaram os processos administrativos na década de 80 e escancararam ao mundo como os grandes nomes da indústria americana tinham se tornado decadentes e demasiadamente burocráticos. Just in Time, Kaizen e Kanban se tornaram mantras nas escolas de administração e viraram referência até em livros didáticos de Geografia no Ensino Médio. Toyota era um exemplo de empresa séria, limpa, profissional, o oposto da onerosa e ineficiente General Motors, que repassava aos seus clientes os custos de seu atraso, entregando-lhes carroças pouco confiáveis debaixo de uma carroceria bonitinha. Em tempos de globalização, internacionalização dos mercados e manutenção da insatisfação, os japoneses eram os guias do capitalismo. Do pó a professores de administração de americanos e britânicos em menos de 50 anos. A surpresa é também causada pelo exotismo. O mesmo responsável por filtrar a informação que flui do arquipélago pelas lentes da atratividade midiática. Quando ouvimos falar de Japão na grande mídia é: uma nova engenhoca tecnológica, um desastre natural de grandes proporções ou alguma matéria quadrada sobre dois ou três pontos da cultura milenar, como a cerimônia do chá e a alimentação saudável. Portanto, restritos em estereótipos, acreditamos que os japoneses tiram carros melhores do nada por graça divina, por superioridade de caráter, quando não, genética. A justificativa para sua supremacia técnica é a fonte em si; são japoneses, isso explica clara e suficientemente o alto nível, não precisamos esmiuçar detalhes, chafurdar em minúcias, nos parece natural que eles, em condições iguais, façam algo melhor que os outros. Vocês sabem, no Otakismo a ideia é desconstruir esse verniz idílico que passam no Japão. Afinal, tudo que reluz demais, gera inerentemente algumas sombras.