Saber direito
O sol sobre o pântano
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|O ceticismo em mim é um produto do cérebro réptil, tão |
|automático quanto a inspiração e a expiração |
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CÁ ESTOU mais uma vez em meio ao vazio. Lá embaixo, o Atlântico mergulhado na majestade do silêncio. Estou num Jumbo que rasga o céu a mil quilômetros por hora e a 35 mil pés de altitude.
Minha relação com aviões tem a tara de tudo que é infantil. Meu pai, que quando nasci era capitão médico da Aeronáutica, me levava pra voar ainda muito pequeno nos aviões da FAB.
Aqui, você se sente ao mesmo tempo o criador do avião (na medida em que se trata de uma invenção humana), e também sua vítima indefesa. Majestade máxima do homem técnico, majestade máxima de sua fragilidade. Os olhos do nada acompanham de perto o avião no seu deboche da lei de Newton. Uma maravilha que carrega a majestade da morte em sua elegância.
No escuro, com a pequena luz que me cabe neste silêncio, leio Georges Bernanos. Se você é uma alma como eu (que pressente o pecado como sua substância), e nunca leu Bernanos, leia.
Aliás, antes que um desses inteligentinhos pense "oh, como este colunista é dominado pela moral católica retrógrada da culpa" ou "pela ideologia burguesa da vergonha", não perca seu tempo, desista de me salvar. Sua "salvação" é comparável às emoções de uma bela adormecida.
Sinta-se liberto do inferno onde vivo. Dois minutos na sua companhia, eu dormiria de tédio. O "bem" na sua face "social" é um tédio como o gosto de uma alface. A beleza do Bem começa no seu respeito pelo Mal e no destino único que os une: os tormentos da liberdade. Um com o perfume da esperança, o outro com o hálito do vazio. O pecado é no fundo uma paixão pela aniquilação de si mesmo, ainda que se disfarce de desejo de "gozar a vida".
Esses "bons moços" de hoje em dia nada entendem do ser humano, e por isso tiram de nós nossa