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POR QUE A PSICANÁLISE?
Luciana Torres Moreira
Roudinesco aponta para a depressão como epidemia psíquica que domina a subjetividade contemporânea como uma forma atenuada da antiga melancolia e critica as práticas paralelas, que têm como denominador comum o oferecimento de uma crença, portanto, de uma ilusão de cura, receitando ao paciente a mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. Assim, a sociedade moderna buscaria banir a realidade da morte e da violência, procurando integrar num único sistema as diferenças e as resistências. Mas a infelicidade tem retornado ao campo das relações afetivas e sociais.
Para Roudinesco, “a concepção freudiana de um sujeito do inconsciente, consciente de sua liberdade, mas atormentado pelo sexo, pela morte e pela proibição, foi substituída pela concepção mais psicológica de um indivíduo depressivo, que foge de seu inconsciente e está preocupado em retirar de si a essência de todo o conflito”, concluindo que “o deprimido deste fim de século é herdeiro de uma dependência viciada do mundo, busca na droga ou na religiosidade, no higienismo ou no culto do corpo perfeito, o ideal de uma felicidade impossível” (p. 19).
Desse modo, a psicofarmacologia encerrou o sujeito numa nova alienação ao pretender curá-lo de sua própria essência humana. Questiona-se, então: que medicamentos será necessário inventar, no futuro, para tratar dos que se houverem “curado”, substituindo um abuso por outro? A autora lembra que a histeria representava uma contestação da ordem burguesa, uma revolta que, mesmo impotente, foi significativa por seus conteúdos sexuais, tanto que Freud lhe atribuiu um valor emancipatório, do qual todas as mulheres se beneficiariam.
No entanto, cem anos depois, assiste-se a uma regressão, daí o paradigma da depressão, que parece atingir também a psicanálise, contestada por uma sociedade que parece preferir a