Robert Bresson cineasta do contemporaneo
O cineasta francês Robert Bresson retratou como ninguém a juventude francesa de sua época. A essa afirmação corresponderiam até mesmo O processo de Joana D´Arc (1962) e Lancelote do lago (1974), filmes que mostram, respectivamente, um personagem famoso da época da Inquisição e momentos da lenda do Rei Arthur. Mas dizer que os protagonistas medievais desses filmes representam os jovens franceses de 1962 e 1974 não seria um total anacronismo? Georges Didi-Huberman (2000), ao tomar a História da Arte como objeto, afirmava que o anacronismo, longe de ser a maldição a assombrar os historiadores, corresponderia, na verdade, a uma necessidade interna das próprias imagens, como “um modo temporal de exprimir toda a exuberância, a complexidade, a sobredeterminação das imagens”1 (Didi-Huberman, 2000: 16). Isto se dá, segundo o autor, por conta da dinâmica mesma da memória, que procede por montagem de tempos heterogêneos.
Didi-Huberman fazia a sua análise em relação a murais de Fra Angélico. Mas, poderíamos aplicar também a sua noção de anacronismo a imagens em movimento feitas no contemporâneo para mostrar o passado? A Joana D´Arc vivida pela estudante francesa Florence Delay diria algo das universitárias parisienses contemporâneas, além de representar a jovem que foi presa pela Inquisição?
Com efeito, um filme histórico costuma dizer mais a respeito da época em que foi rodado do que sobre o momento histórico por ele retratado. Mas é o próprio Bresson que, longe de pensar esse anacronismo como uma maldição inevitável, considera que “remeter o passado ao presente é o privilégio do cinematógrafo, contanto que ele fuja do estilo histórico como da peste” (Bresson, Guitton, 1962: 91), afirmação que lembra o aforisma de Benjamim nas
Passagens: “Telescopage do passado através do presente (Benjamim, 2006: N,7a,3). Tal maneira de ver o