ADAPTA O Robert Stam
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TEORIA E PRÁTICA DA ADAPTAÇÃO:
DA FIDELIDADE À INTERTEXTUALIDADE
Robert Stam
New York University
Resumo
O artigo analisa as formas como as adaptações de filmes a partir de romances têm sido vistas como um processo de perda, em que o romance ocupa um lugar privilegiado. Confrontando esta perspectiva, o ensaio propõe uma linguagem alternativa aos estudos de adaptação. A partir do conceito de dialogismo de Bakhtin e da definição de intertextualidade de Genette, torna-se possível pensar em adaptação em termos de uma prática intertextual.
Palavras-chave: adaptação; intertextualidade.
Neste ensaio, eu gostaria de propor uma linguagem alternativa para falar sobre a adaptação de romances ao cinema. 1 A linguagem convencional da crítica sobre as adaptações tem sido, com frequência, profundamente moralista, rica em termos que sugerem que o cinema, de alguma forma, fez um desserviço à literatura. Termos como “infidelidade”, “traição”, “deformação”, “violação”, “abastardamento”, “vulgarização”, e “profanação” proliferam no discurso sobre adaptações,
Ilha do Desterro
Florianópolis nº 51
p. 019- 053
jul./dez. 2006
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Robert Stam
cada palavra carregando sua carga específica de ignomínia. “Infidelidade” carrega insinuações de pudor vitoriano; “traição” evoca perfídia ética; “abastardamento” conota ilegitimidade; “deformação” sugere aversão estética e monstruosidade; “violação” lembra violência sexual; “vulgarização” insinua degradação de classe; e “profanação” implica sacrilégio religioso e blasfêmia.
Embora seja fácil imaginar um grande número de expressões positivas para as adaptações, a retórica padrão comumente lança mão de um discurso elegíaco de perda, lamentando o que foi “perdido” na transição do romance ao filme, ao mesmo tempo em que ignora o que foi “ganhado”. Em uma diatribe de 1926, Virginia Woolf, por exemplo, denunciou veementemente as adaptações que reduziam as complexas nuances da idéia de “amor” num romance a “um