RNA primordial
A teoria mais aceita para o surgimento da vida a partir de materiais inertes exige a existência de uma molécula capaz de ser, ao mesmo tempo, o ovo e a galinha: ela precisa carregar informações genéticas e também ser capaz de se auto-replicar. O dilema é que ninguém tinha visto uma molécula assim na natureza. Mas isso não foi problema para uma dupla de pesquisadores na Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Eles a fabricaram.
Mais que isso, aliás, eles decifraram a estrutura molecular dessa substância, oferecendo novas evidências de como a vida pode surgir a partir de compostos orgânicos simples. Não é coisa pouca.
Como o DNA, o RNA (ácido ribonucléico) também é capaz de armazenar informação genética (hoje ele é usado pelos seres vivos em muitas funções, como por exemplo a de mensageiro do DNA, levando pedaços de código genético do núcleo da célula até as fábricas de proteína), mas, como ele é composto por uma fita simples, em vez de duas fitas entrelaçadas, como o DNA, acaba sendo muito menos resistente.
Em compensação, ele é uma molécula com uma capacidade de interação muito maior -- poderia, de repente, fazer as duas coisas: conter informação genética e realizar algum metabolismo, propiciando sua própria replicação. Nascia a teoria do "Mundo de RNA".
O que fizeram Michael Robertson e William Scott? Fabricaram uma molécula de RNA que fizesse exatamente essa função de auxiliar na auto-replicação. "Nós temos o primeiro vislumbre de como pode ter sido essa RNA replicase", diz Gerald Joyce, do Instituto de Pesquisa Scripps, em La Jolla, Califórnia, que não participou da pesquisa, mas escreveu um comentário publicado junto com o estudo da dupla na edição desta semana do periódico "Science".