Retorica E Argumenta O
Paulo Serra
Universidade da Beira Interior
Ano lectivo 1995/96
Índice
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1
Introdução
Da retórica à teoria da argumentação
Ducrot: a argumentação na língua
Análise de umtexto de Platão
Conclusão
Bibliografia
Anexo
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3
7
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25
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Introdução
É um lugar comum, hoje em dia, dizer-se que o século XX é o "século da linguagem".
Factores como o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação (mediante as quais toda a experiência humana tende a tornar-se linguagem e comunicação), a consolidação dos regimes democráticos (em que a palavra, e não a violência ou a força, se assume como instrumento da actividade política), a "crise de fundamentos"que sacudiu as Matemáticas nos princípios do século, o desenvolvimento científico e técnico em geral, vêm trazer para primeiro plano a necessidade de estudar os fenómenos da comunicação e da linguagem. Como resultado desta necessidade, a problemática da linguagem "invadiu as ciências humanas e a filosofia."(Meyer, 1992: 5).
Mas, se a "invasão"das ciências humanas e da filosofia pela problemática da linguagem é um fenómeno (relativamente) recente, a preocupação prático-teórica do homem com a linguagem é bem mais antiga. Mais precisamente, ela remonta aos Gregos, à filosofia grega. Com efeito, segundo Kristeva,
"a filosofia grega forneceu (...) os princípios fundamentais segundo os quais a linguagem foi pensada até aos nossos dias."(Kristeva, s/d:149). Toda a filosofia teve (tem), desde o seu início, de confrontar-se com esse fenómeno tipicamente humano que é a linguagem. A etimologia confirma-nos, justamente, essa ligação entre filosofia e linguagem: a palavra grega logos, que costuma traduzir-se por "razão", pode também traduzir-se por "discurso"(a Filosofia aparece, desde o seu início, como um "discurso racional"ou uma "razão discursiva"). Assim, tem todo o sentido que, na Grécia, os estudos sobre a linguagem sejam inseparáveis da filosofia (da linguagem) - situação que, no