RESUMO
Estuda-se a violência contra mulheres como alvo dos cuidados em saúde. É parte de pesquisa em serviços públicos em São Paulo, envolvendo prevalência de casos entre usuárias de 15 a 49 anos; estudo de seus prontuários; descrição dos serviços, por sua observação; e entrevistas semiestruturadas com 50 de seus profissionais, acerca da rotina e do ideal de trabalho em saúde, percepções quanto à existência de casos, ofertas assistenciais ou seus obstáculos e representações sobre violência. Analisa-se o conteúdo das narrativas profissionais, usando-se os demais dados para caracterização de seus contextos assistenciais. Reiterando a literatura, violência foi quase sempre tida como problema relevante, mas fora dos escopos das intervenções profissionais. Relataram-se ações isoladas e em caráter pessoal. Medos e impotência profissional foram mencionados, mas nenhum aspecto positivo para eventual intervenção. Os profissionais mostraram parco conhecimento de serviços especializados de referência. Conclui-se que as dificuldades na aceitação de casos de violência deveriam ser trabalhadas em três dimensões: a estreita definição da competência profissional, excluindo a violência como objeto; a indefinição tecnológica do fazer profissional; e a ausência de apoios efetivos em seus serviços.
Palavras-chave: Violência contra a mulher, Trabalho em saúde, Gênero e saúde, Violência e saúde
Introdução: a violência contra mulheres como questão de saúde
Muitos têm sido os esforços para que a atenção curativa e preventiva a mulheres em situação de violência faça parte dos programas assistenciais em saúde. Desde a década de 1980, o movimento feminista busca efetivar medidas de combate ao problema. Em suas políticas governamentais, o Brasil firmou compromissos para que essa violência seja tratada no quadro dos Direitos Humanos, garantindo-se a cidadania e a promoção da equidade de gênero, conforme as conferências e os tratados internacionais ratificados pelo país.
Nos anos 1990,