RESUMO O MITO
MEIO AMBIENTE, CELSO FURTADO
E O DESENVOLVIMENTO COMO FALÁCIA*
CLÓVIS CAVALCANTI**
INTRODUÇÃO
D
iante de uma situação como a do mundo, que exibe, de um lado, esforços em prol da consecução de um desenvolvimento que continua como fim perseguido pela humanidade e, de outro, a crise ambiental que se agrava e avoluma ameaçadoramente – apesar das afirmações em contrário do estatístico Bjorn Lomborg (1998) – é necessário que se busque explicação e entendimento para o que ora acontece. No meio da variedade de reflexões sobre o assunto, penso que a contribuição de alguém como Celso Furtado merece especial relevo. É nas idéias desse economista da Paraíba, que teve a lucidez de escrever sugestivo livro em 1974, intitulado O Mito do Desenvolvimento Econômico (Rio de Janeiro: Paz e Terra), que se detêm as linhas adiante, procurando mostrar como Furtado antecipou-se em perceber os condicionantes ambientais do progresso econômico contemporâneo.
O DESENVOLVIMENTO COMO MITO
Em seus escritos – e não apenas no Mito (vou me referir assim, abreviadamente, à obra) – Celso Furtado repassa constantemente conceitos como o de dependência, concentração de renda, mimetismo cultural, relações assimétricas centro-periferia, mercado interno, e muitos outros, além de trabalhar uma visão estruturalista do subdesenvolvimento, do desenvolvimento e de fenômenos correlatos. Entretanto, é no livro O Mito que ele levanta duas questões não comuns ao restante de sua importantíssima obra, ou pelo menos não tão categoricamente formuladas como nele. A primeira das questões diz respeito aos impactos do processo econômico no meio físico, na natureza – um tema completamente alheio ao núcleo do pensamento
Uma primeira versão deste trabalho, distinta da presente, com o título “Celso Furtado e o Mito do Desenvolvimento Econômico”, apareceu em Pedro Vicente Costa Sobrinho e Nelson Ferreira Patriota Neto (orgs.),
Vozes do