Resumo - a história repensada
PREFÁCIO Trinta anos depois da revolução provocada nos estudos históricos pela obra de Focault, já era hora de se explicitar, discutir e avaliar as profundas mudanças pelas quais passou nossa disciplina, Há até pouco tempo, que os historiadores estavam convictos que estudavam os fatos, que o passado, no singular é determinado por “leis necessárias”, estava lá atrás bem organizado à espera de ser por ele revelado em sua suposta “essência” e em sua “totalidade”. Havíamos aprendido que o “real” o “concreto” - representado à nossa revelia como coisa – devia ser interpretado com objetividade e neutralidade, isto é, sem a intervenção subjetiva do narrador. Essa relação do historiador com seu objeto de trabalho certamente mudou. A grande maioria dos historiadores, e não apenas no Brasil, entende que a produção do conhecimento histórico é bem mais difícil e complexa, envolvendo inúmeras discussões e problematizações, a começar no que diz respeito ao seu principal instrumento de trabalho, isto é, as fontes, ou antes, os discursos. Mesmo com a descoberta de outros recursos documentais, como as imagens trazidas pelo cinema ou pela pintura, é a partir dos textos escritos no passado, ou memorizados no presente, que procuramos descobrir o que se passou, reunindo os fragmentos dispersos que restaram, dando-lhes uma certa forma e buscando seus possíveis sentidos. Construímos, pois, uma trama e uma narrativa do passado a partir das fontes existentes, dos recursos teórico-metodológicos escolhidos e de um olhar, dentre vários outros possíveis, marcado por nossa atualidade, vale dizer, por nossa inserção cultural e social enfim, por nossa própria subjetividade. Hoje, já não se pode afirmar simplesmente que a História é o registro do que aconteceu no passado, pois se vários acontecimentos foram lembrados, muitos perderam seus rastros, foram esquecidos, ou deliberadamente apagados. Uma das principais