Resumo Psicodiagnóstico
O prestígio da atividade psicodiagnóstica e sua conseqüente relação com a atividade psicoterapêutica, entretanto, tem variado ao longo do tempo, em um leque que abrange desde posições em que o psicodiagnóstico é considerado como a primeira e indispensável etapa da psicoterapia até posições que o consideram "inútil", "desumanizante" ou "autoritário". Também sua prática, e as técnicas nela envolvidas, tem variado ao longo do tempo, ora privilegiando instrumentos de medida, como testes e escalas, ora privilegiando o papel do investigador, como nas entrevistas clínicas.
Nesta reflexão, proponho-me a examinar as atividades de psicodiagnóstico, e suas relações com a psicoterapia de um ponto de vista que pressupõe que a prática da psicoterapia implica e é determinada por condições oriundas de duas dimensões não completamente coincidentes. Por um lado, é um serviço profissional prestado por uma pessoa ocupando o papel de terapeuta a uma (ou mais de uma) pessoa ocupando o papel de cliente, ou seja, uma prática social reconhecida e regulamentada, o que configura uma dimensão pública com particularidades e determinações específicas oriundas das condições sociohistórico-políticas em que essa prestação de serviço ocorre. Por outro lado, o fundamento desse serviço é o estabelecimento de um certo tipo de relação entre as pessoas que ocupam aqueles papéis, o que configura uma dimensão privada com particularidades e determinações de ordem interpessoal e intrapessoal, ou individual. Sustento que o entrecruzamento das determinações impostas por essas duas dimensões é um fenômeno complexo e não-linear que gera vários tipos de problemas e paradoxos, cuja