Resumo do filme desmundo
Adaptado de:Discurso poético e discurso histórico:uma relação intertextual, de: Cláudia Espíndola Gomes
Numa noite estrelada do ano de 1555 chega ao Brasil uma caravela trazendo uma leva de órfãs mandadas pela rainha de Portugal para se casarem com os cristãos que aqui habitavam. Com a mente repleta de sonhos e fantasias, elas pisam pela primeira vez a terra distante, onde um mundo rude, belíssimo, violento, as espera. A história dessas órfãs é contada por uma delas, Oribela, com sua visão mítica, espiritual, sensual, uma jovem que costuma ter visões noturnas, ímpetos de partir e muito medo da paixão que habita sua alma. Seu relato íntimo revela, todavia, não apenas as aspirações e angústias de sua desamparada existência feminina, mas a brutalidade do desmundo que a cerca, o encontro de povos em guerra, o conflito entre seres diferentes, a intolerância religiosa, os terrores que encerra o desconhecido.
Suas "palabras pronunciadas con el corazón caliente" formam um suntuoso relato arrancado das partes mais inconscientes, mais misteriosas, de um ser que atravessou não apenas o oceano Atlântico, mas a linha imaginária que separa a realidade e o sonho, a liberdade e a escravidão, o amor e o ódio, a virtude e o pecado, o corpo e o espírito.
O discurso ficcional permite a desestabilização do discurso da história, e as histórias podem, então, ser narradas a partir de um ponto de vista não focalizado pelo último. Se, por exemplo, à história dos primeiros anos de colonização do país o acesso se dá através dos cronistas portugueses, o romance de Ana Miranda lê a história destes momentos a partir de um outro prisma, acompanhando, inclusive, o pensamento da personagem pontilhado de crenças, medos e questionamentos diante do mundo/desmundo que a ela se apresenta.
A literatura passa a traduzir uma história que não se quer imóvel. Através da narrativa de Oribela, o leitor ingressa em formas de ação e de pensamento da época, deparando-se com