Qualquer processo de socialização pode ser considerado uma ressocialização, sempre que tal implique, por parte do ator que nele se envolve, uma mudança significativa no comportamento. Não se trata propriamente de um corte radical com aprendizagens e vivências anteriores, mas sim da aquisição de novas experiências, que lhe fazem interiorizar outras normas e valores eventualmente diferentes daqueles a que estava habituado e que o ensinam a viver socialmente em conformidade com a nova condição que passa a deter. A cidade, espaço socialmente heterogéneo, facilita o estabelecimento de relacionamentos entre indivíduos e grupos, num permanente "processo relacional" (Costa) de partilhas identitárias que, pela ação continuada das socializações, elas próprias complexas, tendem a revalorizar-se, umas, ou a desvalorizar-se, outras, num conjunto de requalificações permanentes que o tempo e as circunstâncias ecológicas e espaciais movem. Cada indivíduo que, proveniente dos meios rurais, migra para a cidade tem, potencialmente, capacidade de assegurar distintos processos de socialização, que decorrem dos múltiplos papéis, e funcionam como mecanismo de revisão identitária que o novo meio, por comparação ao anterior, lhe oferece ou lhe impõe: nas relações de género ou nos planos familiar, religioso, étnico, ocupacional. Mas cada um destes papéis é dinâmico e está sujeito a mutações mais ou menos acentuadas, naturalmente pelo tempo, e especificamente pelo espaço, isto é, pelas características que distinguem os espaços de um mesmo país. Para os migrantes, há, assim, uma dupla dimensão na evolução identitária, produto de socializações e ressocializações: uma que se pode apelidar de horizontal e que resulta do impacto que necessariamente a mudança para um novo espaço e, sobretudo, para um espaço com características distintas do seu espaço de origem necessariamente impõe; outra, que se pode apelidar de vertical e que resulta do tempo e dos percursos individuais, das respetivas