Resenha "O dizer e o dito"
O capítulo inicia com a constatação de que um enunciado tem sua significação dentro das ocorrências possíveis de uma língua em que ele pode ocorrer. Fora dessas possíveis ocorrências é preciso encontrar uma hipótese de uso que seja justificada. Essas hipóteses, mesmo que não possam ser apoiadas por evidências, constituem condição necessária para uma descrição semântica “especificamente linguística”. A descrição semântica é extremamente difícil de ser feita pois as condições de aplicação de um enunciado de uma língua dependem não apenas de conhecimentos linguísticos, mas de vários outros. As significações decorrem de uma infinidade de contextos. A descrição semântica deve considerar o componente linguístico para atribuir uma significação, independente do contexto. E também deve considerar o componente retórico para prever outras significações do mesmo enunciado. O autor mostra um esquema, em sua opinião mais satisfatório, em que pressupõe que as circunstâncias da enunciação são utilizadas para mostrar o sentido real de ocorrência de um enunciado, independente do contexto. Para Ducrot é necessário que se atribua ao componente linguístico uma postura sistemática. Por outro lado, as leis utilizadas no componente retórico poderiam ser justificadas pela psicologia, lógica, crítica literária etc. Para exemplificar, Ducrot tenta distinguir dois tipos de efeito de sentido, um deles a partir do retórico. O autor dá quatro exemplos e através deles diferencia as noções de “subentendido” e “pressuposto”. Os pressupostos continuam sendo afirmados mesmo que o enunciado seja negado ou questionado, mas esse mesmo argumento não pode ser empregado se se tratar dos subentendidos, pois a relação com a sintaxe é mais difícil de ser identificada. O subentendido permite acrescentar algum significado a um enunciado “sem dizê-lo, ao mesmo tempo em que é dito”, é um fato da fala. Outra característica do subentendido é que