Resenha: “O debate sobre ‘Será o fim da história?’ ”, de Francis Fukuyama
Ainda antes de ser analista político do Departamento de Estado norte-americano, Francis Fukuyama redigiu um dos artigos mais comentados do período pós-guerra. Nomeado “Será o fim da história?”, o texto afirmava que as reformas na União Soviética e na Europa Oriental atestavam a “vitória” do Capitalismo.
Fukuyama iria ainda mais longe: para ele, os atos não simbolizavam apenas o final da Guerra Fria, mas também da história em si. Segundo sua tese, a partir dali não haveria mais evolução ideológica da humanidade. Ou seja, a chamada democracia liberal se universalizaria como a única forma de governo dali para frente. Até haveriam acontecimentos politicamente importantes, mas todos completando o ciclo que culminou no domínio do liberalismo.
A ideia de Fukuyama, no entanto, não é original. Para entendê-lo, é preciso retornar ao século XIX, quando o filósofo alemão G. W. F. Hegel afirmou que as ideias no mundo material se concretizavam através de eventos históricos. Seguindo este pensamento, afirmar que a história chegou ao fim é afirmar que todos os conflitos ideológicos foram resolvidos.
Apesar de mal recebido pela crítica e por outros pensadores, o artigo de Fukuyama foi classificado como “tão brilhante que era difícil repeti-lo ou refutá-lo”. Alguns, no entanto, apontam erros dentro do texto. É o caso do francês Pierre Hassner, que analisa a citação da pobreza e da guerra no texto atestam a existência de conflitos no globo. Para Fukuyama, no entanto, os “problemas do Terceiro Mundo” não atingem os países desenvolvidos.
Irving Kristou, editor da revista The National Interest, apela a outro pensador para discordar completamente da tese. Ele cita Aristóteles, que afirmou que todo regime político, seja ele qual for, é instável e transitório. Já a historiadora conservadora Gertrude Himmelfarb responde ao artigo defendendo a imprevisibilidade fundamental da história – ou seja, não há como garantir