resenha todorov
Beatriz Perone Moisés – 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em A Conquista da América: A questão do Outro, em seu primeiro capítulo intitulado Descobrir, Tzvetan Todorov faz uma reflexão sobre a questão da alteridade. A expressão “Colombo descobriu a América, mas não os americanos”, por si só é muito reveladora. O véu que envolvia o mito do descobrimento é descerrado, revelando o lado mais cruel da relação inicial entre “descobridores’ e “descobertos”. Valendo-se de farta documentação para que sua escrita seja compreendida, mesmo ouvindo somente os espanhóis, Todorov nos revela todo o estranhamento dessa descoberta do outro que, segundo o autor, possui valor paradigmático e de causalidade direta, já que com a conquista da América por Colombo, funda-se a nossa identidade.
Muito se escreveu sobre a real motivação de Colombo no advento do descobrimento. Partindo de uma análise psicológica do navegador, criada a partir dos rastros extraídos das fontes pesquisadas, Todorov nos leva a crer, a princípio, na motivação religiosa, quase messiânica por parte de Colombo. O ideal cristão de Colombo e a missão patrocinada pela Coroa espanhola, que visava às riquezas, ao invés de se contraporem, na verdade se complementam.
O autor nos revela o sonho de Colombo de libertar Jerusalém. Para isso ele necessita angariar recursos para que seus mandatários possam financiar essa nova empreitada. Na passagem:
No momento em que tomei as providências para ir descobrir as Índias, era na intenção de suplicar ao Rei e a Rainha, nossos senhores, que eles se dedicassem a gastar a renda que poderiam obter das Índias na conquista de Jerusalém, e foi de fato o que eu lhes pedi. (p.12,13).
Essa intenção fica explícita, apesar de a realeza espanhola não levar a sério as ideias de Colombo. O tópico “Colombo hermeneuta” aos poucos vai revelando as mudanças na concepção de Colombo em