Resenha - Rashomon
Um fato, vários relatos
Rashomon é um filme japonês de 1950 que revolucionou a linguagem cinematográfica e introduziu seu escritor e diretor, Akira Kurosawa, no cinema japonês e ocidental. Estrelando Toshirō Mifune (o bandido Tajomaru), Machiko Kyō (a bela dama Masako) e Masayuki Mori (o marido e samurai assassinado Takehiro), a obra, que apresenta o Japão antigo do século XI, tem como base os contos de Ryūnosuke Akutagawa. A narrativa não convencional do clássico, que apresenta certa aura mágica, explicita a impossibilidade em se obter uma certeza acerca dos fatos quando há divergência de pontos de vista ou julgamentos conflitantes, mantendo até o final a relatividade de discursos sobre as circunstâncias do caso: o estupro de Masako e o assassinato do samurai. Os relatos das testemunhas, mutuamente contraditórios, são recontados por um lenhador (Takashi Shimura) e um sacerdote (Minoru Chiaki) para um plebeu (Kichijiro Ueda), enquanto aguardam a passagem de uma tempestade numa construção antiga – Rashomon. O filme resume-se às descrições dos envolvidos de um mesmo evento e ao abordar o problema do conhecimento (mostrando que não existem verdades absolutas, mas sim verdades aceitas), Rashomon firma-se como uma obra que faz jus ao respeito que conquistou.
O tema é tão revolucionário quanto o método com que é abordado: a partir do uso engenhoso de flashbacks que se desdobram e se sobrepõem e de técnicas inovadoras na captura da imagem - no que se refere ao ambiente labiríntico da floresta (local do crime) em que o espectador se vê envolvido, e aos ângulos e enquadramentos muito precisos. Na trama valoriza-se mais o desvendar das causas que levaram cada personagem a relatar suas versões, ou seja, o modo como cada personagem “recorta” a realidade (visando conservar sua honra – uma das virtudes consideradas mais importante pelos japoneses) do que mostrar a verdade, propriamente dita. Para reservar aos espectadores um