Resenha livro “AIDS e suas metáforas” – Susan Sontag
A autora inicia o livro abordando o tema do câncer e de como essa doença é vista e vivida pela sociedade atual. Segundo Sontag, o câncer sempre foi visto como sinônimo de morte e isso posterga a procura de tratamento e, consequentemente, diminui as chances de cura. Além disso, no contexto da metáfora militar, que compara o processo de cura a uma guerra contra um determinado invasor, ocorre um sentimento de incompetência e frustração por parte da pessoa doente principalmente quando defronte de uma doença grave como o câncer. Muitas vezes esse sentimento de incompetência leva a uma repulsa de si próprio, uma vergonha por não ter vencido a guerra contra o agente agressor. Em busca de uma mudança,
Sontag escreve o livro “A doença e suas metáforas” que acaba por permitir a elaboração do
“AIDS e suas metáforas”.
A AIDS, diferentemente do câncer, tem uma causa única e conhecida: a invasão do vírus às células sadias através de fluidos corpóreos contaminados. A partir disso o câncer e a
AIDS podem ser diferenciados. No câncer importa-se com o momento em que as células se rebelaram contra o próprio corpo para produzir células mutantes. Isso leva ao questionamento
“porque eu!?” e possibilita uma certa piedade para com o indivíduo doente. Já na AIDS dá-se extrema importância ao agente agressor, que vem de fora, e a forma como essa “invasão” ocorre. A soropositividade é frequentemente associada a um comportamento promíscuo e imoral, permitindo que a culpa recaia inteiramente sobre o indivíduo gerando uma espécie de
“merecimento” da doença.
Esse estigma carregado pelos soropositivos é ainda agravado pela ideia de alta mortalidade provocada pela doença. O “full-blown”, como explicado por Sontag, é a ideia impregnada na sociedade de que todas as pessoas portadoras do vírus terão AIDS, a fase
“avançada” da doença, e, desta forma, todos os portadores estariam fadados a definhar lenta e progressivamente até