Resenha imagem corporal
Coração Estrangeiro em Corpo de Acolhimento
Com o conceito difundido atualmente de morte clínica cerebral, no qual o corpo “mental” já não realiza as suas funções mas o corpo “mecânico” ainda mantém as suas características funcionais, torna-se possível a realização dos transplantes e órgãos (entre eles o próprio coração), de forma que a medicina técnica passa a enxergar tais órgãos como simples objetos.
Mas apesar de ser um órgão “mecânico” e que tecnicamente pode-se considerá-lo como peça intercambiável, ainda é o lugar onde as pessoas figuram os valores da vida social, espiritual e afetivo-emocionais.
Para um transplantado coordenar de forma paralela a organização psíquica (se esse coração, em si, encerra a sua própria identidade) e fisiológica (adequação corporal do órgão transplantado), passa a ser o maior desafio.
No processo de transplante, onde é feita a secção dos nervos do órgão que será transplantado e o seu posterior religamento no corpo receptor, pode-se supor que um transplantado associe a sua falta de reação às emoções, uma vez que seu novo órgão pode não ter sido totalmente religado aos centros cerebrais subcorticais, suprimindo, em consequência, os circuitos reflexos de adaptação. Apoio psicológico, focando um trabalho de “adoção” do novo coração, permite a este exercer o seu “governo” de maneira homogênea e a reconstituição da funcionalidade do coração, sob todas as suas formas (o coração real – físico, e o coração imaginário – psíquico).
Existem atualmente duas representações contemporâneas referentes ao coração imaginário que são “coração-bomba” e “coração-sentimento”.
A primeira, do “coração-bomba”, é voltado para o racional, onde questões relacionadas à desarmonia do novo órgão como “será que o coração que vão colocar em mim estará de acordo com a minha constituição?” ou “se houver competição no meu organismo, quem vai vencer?” difundem-se. Mas há também pensamentos relacionados à harmonização que, felizmente,