Resenha: fama e anonimato
Dâmaris Dellova Oliveira
Imagine só, andar pela rua e perceber peculiaridades dos manequins das lojas. Os da Peck & Peck mais jovens e esbeltos, os da Lord & Taylor têm ar mais grave, enquanto os da Saks são mais tímidos e maduros. Essa é uma das inúmeras descobertas feitas por Gay Talese no livro "Fama e Anonimato". Na verdade, ele convida o leitor para conhecer o corriqueiro, o que passa despercebido aos olhares apressados. Ele explorou o lado da cidade de Nova York com que poucos estão familiarizados, e em suas entrevistas, notou trejeitos do entrevistado, onde só alguém muito meticuloso seria capaz de notar, além de descrever os detalhes na sua essência. Talvez seja por isso que ao longo do livro, nos sentimos exaustos da sua minuciosidade, mas nem por isso menos interessados.
A primeira parte da obra, denominada "Nova York: a cidade de um serendipitoso", com certeza é o momento mais instigante da leitura. Como Talese teria descoberto dados tão inimagináveis, como por exemplo a hierarquia dos gatos de rua em Nova York? E os quilômetros de fio dental que os americanos usam por dia? Os dados apresentados, de tão específicos que são, chegam a transmitir um ar de mentira. Essa realidade nos fatos descritos pelo autor, condizem com o conceito do New Journalism, o jornalismo que consiste na precisão dos fatos e na riqueza de detalhes. Gay define assim: "Embora muitas vezes seja lido com ficção, o novo jornalismo não é ficção. Ele é, ou deveria ser, tão fidedigno quanto a mais fidedigna reportagem [...]".
Já a segunda parte, "A Ponte", sobre a ponte Verrazano-Narrows, retrata um pouco do cotidiano dos boomers (operários de obras), não só no trabalho, mas também da vida pessoal, de como ficam longe de suas famílias, voltando só nos finais de semana, além das tristes histórias dos acidentes que eventualmente ocorrem. Para escrever a Ponte, o autor viveu e observou de perto, no canteiro de obras, visitando os barracões e, até mesmo se