Resenha "Ensaio Sobre A Dádiva" - Mauss
PRESENTES: UM CONTRATO VELADO
Quando se fala em troca de bens a primeira coisa que vem à cabeça, seja de um adulto ou de uma criança que já tenha estudado as civilizações arcaicas na aula de história, é “escambo”: “escambo foi a primeira forma de comércio existente”, “o sistema de trocas foi o que antecedeu o sistema monetário”, “escambo é trocar um objeto por outro ao invés de trocar um objeto por moeda”. E essas foram frases que ouvi de pessoas na rua para quem indaguei a cerca do que consiste o escambo. Em suma, o censo comum atrela a troca de bens à economia. E não deixa de ser, mas ela carrega outros significados muito mais fortes no convívio social e até na religião antes de fincar suas raízes na economia e no comércio.
Para desmembrar essas ramificações históricas do que hoje consideramos, uma simples troca de bens, de presentes, vou tomar como base a obra de Marcel Mauss (1923 – 1925), “Ensaio sobre a dádiva – Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”, o mais antigo e importante estudo sobre a origem antropológica do contrato e o intercâmbio de bens. No ensaio, ele formula a regra fundamental da troca: uma tripla combinação entre dar, receber e retribuir. Um tripé que, logicamente, acaba se tornando um circulo, um ciclo, um troca-troca sem fim.
O Dar
O ato de “dar”- parece banal e desnecessário explicar - mas consiste em oferecer algo à alguém, seja um bem de qualquer natureza que for, desde um sapato, uma blusa, dinheiro, até um café, um abraço, uma oração. É um ato voluntário de ofertar algo generosamente que carrega no fundo um caráter obrigatório de retribuir o que foi dado (para quem recebeu), e em quem ofertou, desperta a esperança mesmo que inconsciente de, em troca, um dia, receber o que foi dado.
O Receber
Receber algo é a mais eficiente injeção de ânimo e o melhor afago ao ego e à alto estima, pois quando alguém recebe algo é impressionante o quanto se sente importante, especial. Mas