Resenha - enron - os mais espertos da sala
Muita gente entrou em contato com essa história toda apenas no segundo semestre de 2001, quando a então gigante de revenda de energia e gás, a maior dos Estados Unidos, degringolou em um processo que levou à sua bancarrota. O mundo ficou pasmado - nos anos 90 poucas empresas de capital aberto na Bolsa de Valores de Nova York tinham ações tão caras quanto as da Enron. Seu slogan era Ask Why, pergunte por quê, sugerindo que a companhia não temia ultrapassar barreiras, quebrar mitos. Acionistas investiam às cegas. Funcionários eram incentivados a aplicar suas poupanças em ações da casa. Acontece que ninguém questionava o porquê do sucesso da Enron.
O documentário vai à formação da companhia texana nos anos 80 e ao perfil dos envolvidos para entender como nasceu o que se tornaria uma ilusão de sucesso. O segredo estava na desregulamentação da indústria. Esse termo é usado pelos defensores do mercado como um mantra - significa que o Estado não interfirirá com normas e restrições no vale-tudo do livre-comércio. No caso da Califórnia, por exemplo, revendedores de energia, como a Enron, poderiam elevar o preço como quisessem, enquanto as distribuidoras, aquelas que lidam direto com o consumidor, sofriam o limite de tarifas imposto pelo governo estadual. O ápice desse desequilíbrio de regulamentação foi o famoso blecaute de 2001, mas disso falamos depois. O fato é que a Enron estava no lugar certo, na hora certa - não por acaso a Era de Ouro dos neoliberais.
Claro que um par de boas relações era necessário para lubrificar a engrenagem. Ken Lay, o fundador da Enron, tinha relações muito próximas