Resenha encontrada do mil platos
RESENHAS
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. 1995-1997. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34. 715 pp.
Ovídio Abreu Filho
Prof. de Antropologia, UFF
Em 1997, publicado seu quinto volume, concluía-se a edição brasileira de Mil Platôs, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, que se iniciara em 1995. O intervalo entre a edição original dessa obra, que é de 1980, e a de sua tradução completa para o português não deixa de revelar as dificuldades na recepção desse livro que faz avançar o trabalho de criação de uma nova imagem do pensamento e que questiona os pressupostos dominantes na filosofia e nas ciências humanas: a crença em uma tendência natural do pensamento para a verdade, o modelo do reconhecimento e a pretensão de um fundamento. Mil Platôs, que compartilha com O Anti-Édipo o subtítulo Capitalismo e Esquizofrenia, não é uma continuação linear das teses propostas no livro de 1972: de um volume a outro há mudança de tom e avanços da criação. Mesmo que pudéssemos imaginar que o AntiÉdipo tivesse como subtítulo “pela filosofia”, nele a construção ético-filosófica se fez através de uma crítica. Mil Platôs, ao contrário, é um livro fundamentalmente positivo: não estamos mais dian-
te de uma crítica do Édipo, e sim da construção do conceito de multiplicidade, para além da oposição do Um e do Múltiplo, e dos dualismos da consciência e do inconsciente, da natureza e da história, do corpo e da alma. A teoria da multiplicidade efetua uma interpretação do real que conjuga uma construção ontológica e uma leitura do mundo e da sociedade que surpreende com uma nova distribuição dos seres e das coisas: não admite unidade natural, uma vez que não se apóia em nenhuma necessidade e não visa a nenhum prazer; não reconhece a falta, uma vez que não se constitui em referência a uma unidade ausente (recusando, pois, a noção de desejo como falta); e não aceita nenhuma transcendência – seja na origem, como idéia ou modelo,