Resenha do livro Claros e Escuros
Identidade, povo e mídia no Brasil
SODRÉ, Muniz. Claros e Escuros. Coleção Identidade Brasileira. 2° Edição. Editora Vozes. 2000.
Parte 2 – O Campo da Singularidade
A parte constitui um todo ou é por ele constituída?
Esta discussão de Kant com Baumgarten trava em torno da dicotomia entre cultura e individuo. Na primeira hipótese kantiana (onde o entendimento equivale a um jogo de sombras, com a realidade ao fundo), a cultura (como entendimento grupal da realidade) resulta de um jogo tensional entre indivíduos e seu mundo. Cada termo cria o outro.
Na segunda hipótese, a cultura resultaria da luminosidade original dos indivíduos sobre a escuridão: estrelas brilhando em um céu neutro. O indivíduo seria autônomo diante da cultura.
A primeira hipótese sugere a superação da dicotomia indivíduo/grupo (ou cultura) ou então, no plano da subjetividade, a dicotomia realidade psíquica/realidade externa. Freud acompanha este raciocínio quando decorre sobre as fontes do sofrimento humano onde diz que se refletimos sobre o fracasso, precisamente nesse domínio, de nossas medidas de preservação contra o sofrimento, começamos a suspeitar de que aqui, mais uma vez, dissimula-se alguma lei da natureza invencível, e que se trata desta vez de nossa constituição psíquica.”. Freud inclui a força do grupo social, ele estabelece que as bases da sustentação da vida psíquica individual assentam-se num solo mais forte que o de sustentação da vida de cada indivíduo singular – o da pluralidade instituída.
Na verdade, a constituição psíquica do indivíduo depende da força de continuidade do grupo, de modo que cada indivíduo configura-se como “lugar” num território ao mesmo tempo singular e social, sempre investido de um desejo ancestral de continuidade da espécie. Na ética ressoa o eco das “vozes” fundadoras e preservadoras do grupo. A individuação do sujeito dá-se tanto no plano biológico quanto no plano de socialização aberta á variedade das organizações