Resenha do filme narradores de javé 2003
O filme “Narradores de Javé” se vale de cenas dramáticas, tragicômicas e de ironia que de forma alternada denuncia uma realidade, infelizmente, muito presente nas sociedades modernas, qual seja, a desigualdade social.
Como em toda realidade, o filme nos mostra que as diferenças históricas de constituição entre os grupos desta ou daquela comunidade acabaram gerando uma disputa em que prevaleceu o funcionamento à semelhança dos modelos econômicos capitalistas, quem tem mais pode mais e onde a administração acabou sendo feita pelo grupo reconhecido com a autoridade social decorrente de um pressuposto estabelecido de que possuía melhores predicados econômicos e culturais.
Na disputa pelo poder simbólico entre os grupos para se remover ou não a comunidade de Javé está implícita outra disputa cultural representada pelas tradições oral e escrita daqueles grupos, sendo sutilmente introduzida questão da dupla missão do sistema de ensino defendida por Bourdieu e Passeron (HAECHT, 2008): inculcar conteúdos e saberes e reproduzir o arbitrário cultural que já existe numa sociedade.
Como forma de não sucumbir àquela violência simbólica a comunidade de Javé teria que adotar o sistema considerado ideal de reduzir à forma escrita, com conotação científica, os feitos da sua história.
Contudo, a comunidade de Javé compartilhava outros tipos de valores, os relatos até então só eram contados entre as gerações de boca a boca, sem a necessidade de se expressar detalhadamente por meio da linguagem.
Na comunidade de Javé os meios de comunicação formal não eram explorados, tanto que um dos personagens, Antônio Biá, chegou a se valer do artifício de forjar cartas com conteúdos desabonadores das pessoas, apenas para fomentar a circulação das mesmas e manter o funcionamento a agência dos Correios onde trabalhava.
Pelo prisma de uma escola formal, a sociedade de Javé era destituída das formas