Resenha do documentário: justiça
O documentário Justiça se apresenta como uma visão plural de faces do Sistema judicial do Rio de Janeiro. Não é apenas um retrato da difícil realidade em que vivem os detentos, o filme também se mostra como um emaranhado de situações que se cruzam e tecem a teia da falência das instituições jurídicas no Brasil. O relato ultrapassa o cenário do fórum e integra os representantes do direito – juízes, promotores e defensores públicos – com os presos e os seus familiares. O que fornece ao telespectador a oportunidade de “vivenciar”, mesmo como observador, as relações entre esses representantes e os presos.
No geral, nota-se uma indiferença por parte dos juízes com os réus. Aparentemente, os juízes que aparecem no documentário já possuem uma visão preconcebida do perfil do preso em questão, seja por uma analogia ao estereótipo dos que costumam ser presos, seja pela própria reincidência do réu. A introdução do documentário transmite com evidência essa relação na qual um deficiente físico numa cadeira de rodas é indiciado por um suposto roubo a uma casa. Mesmo nessa situação delicada que requer uma maior atenção, o juiz simplesmente pergunta o que ele poderia fazer pelo o preso. Subentende-se uma negação implícita: “não sou médico”. Isso porque o preso pediu apenas para ser remanejado a um hospital já que não tinha condições de se locomover para certas necessidades básicas. E ainda se pode questionar: esse homem teria condições de pular o muro e roubar aquela casa? Pouco provável. A não ser que ele estivesse ali como um informante. Porém tal circunstância, não retira a parcialidade do tratamento do juiz com o réu.
Nesse enfoque se reflete sobre o título do documentário de Maria Augusta Ramos: Justiça. O que seria a justiça? Como aplicá-la? Os juízes são justos ao estabelecer os julgamentos? A condição a que são submetidos os presos é justa e ressocializa? Esses são alguns dos questionamentos que podem