Resenha Discipulado
Trata-se de uma obra essencialmente prática sobre vida e ética cristã a partir de uma perspectiva essencialmente pastoral. Essa obra é uma reflexão sobre o significado do discípulo e seu ingresso na comunidade cristã do ponto de vista do compromisso e da aceitação do seu chamado. É, portanto, uma obra de resistência, voltada também para a especificidade delicada do momento em que ele se achava. Parodiando o que disse Walter Schmitals sobre o Jesus de Bultmann, essa é uma obra que só poderia ter sido escrita naquelas circunstâncias, daquela forma e por aquele autor. É única não pelo seu tema, mas pelas circunstâncias em que ela veio ao mundo. É normalmente tido como ponto pacífico o fato de que Discipulado surgiu em decorrência da experiência pastoral e espiritual vivida pelo teólogo nos dois anos em que dirigiu o seminário para a formação de pregadores da Igreja Confessante (1935–1937), fundado por aquela denominação como contraponto tanto à Igreja Luterana Estatal cooptada pelo regime nazista, bem como ao movimento dos cristãos alemães que pretendia um revisionismo das próprias Escrituras a fim de expurgá-las de tudo o que houvesse de judaísmo e de ética pessoal e piedade cristã. O seminário, localizado nas proximidades de Stettin (atual Sczecin, Polônia), conseguiu sobreviver às margens das estruturas eclesiais vigentes até ser finalmente desativado pela Gestapo em 1937, ficando assim inconcluso o trabalho pastoral desenvolvido pelo teólogo no sentido de formar uma comunidade monástica inspirada na regra beneditina. Porém, para Bonhoeffer, esse monasticismo – isto é, um monasticismo com viés protestante – não tem nenhuma relação com o monasticismo ascético que é característico do catolicismo. Para Bonhoeffer o voto monástico é, antes de tudo, voto para o serviço, isto é, para fora e não para dentro da clausura. O chamado cristão é chamado para o próximo e o discipulado é o ministério pela qual o cristão é preparado para a sua vida cristã de serviço e de