Resenha Desmundo
Desmundo conta com uma produção cuidadosa em detalhes. Por exemplo, as personagens falam português arcaico – curiosamente com pouco ou nenhum sotaque português – o que pede ao filme legendas em português atual para que o público possa acompanhar. Aqui, entretanto, o efeito final não soa tão artificial quanto nos filmes de Mel Gibson. O elenco está todo muito bem preparado e a carga dramática casa perfeitamente com o velho idioma que, afinal, não difere tanto do nosso português atual.
Ainda nos detalhes, é interessante notar a contextualização histórica, sutil em alguns casos. O filme aborda a história das órfãs brancas que eram enviadas do Reino para que se casassem com os colonos dos primeiros anos da colonização portuguesa por estas terras. Em determinadas situações, têm-se um vislumbre de certos problemas bastante característicos deste momento. Um exemplo é o conflito entre os negociadores de escravos indígenas com seus aliados tupinambás, que alegavam que os portugueses, no afã de comercializar suas cargas – obtidas na figura dos prisioneiros de guerra – não lhes permitiam realizar seus rituais antropofágicos. Estes detalhes, como o uso do termo “negros da terra” para se referir ao indígena, algo bem particular do período, só vêm a enriquecer a boa contextualização da colônia no século XVI.
Para a narrativa, opta-se por mostrar um Novo Mundo duro, sem sutilezas. Nada das cores vivas e situações cômicas do Caramuru do Selton Mello, por exemplo. Desmundo apresenta uma sociedade tosca, que nem bem pode-se ser assim chamada num sentido mais humano. São pessoas nulas de amenidades se estabelecendo no que eles encaram como a expressão máxima da selvageria. Importante lembrar que esta visão retinta do passado, onde tudo parece menos limpo e puro numa