Resenha Desmundo

FRESSNOT, Alain. Desmundo. Brasil: Sony Pictures. Drama, 2003, 101 minutos.

O filme Desmundo (2003) é uma obra fílmica adaptada do livro homônimo da escritora carioca Ana Miranda. Conhecida pelos críticos literários como uma das primazes das obras consideradas narrativas de extração histórica1, a escritora trabalha em suas obras com fatos oficiais, mas de forma ficcionalizada. Este viés ficcional oportuniza um olhar diferenciado para aquilo afirmado como verdade pela história de um povo, de uma nação, de uma cultura.
Ambientado no ano de 1750, o filme apresenta um olhar sobre um dos principais acontecimentos históricos do período de colonização do Brasil: o povoamento das terras brasileiras. Preocupado com a pureza dos filhos da nova terra e, principalmente, por considerarem as índias como impróprias para gerarem os filhos dos portugueses, os padres jesuítas pedem que a corte portuguesa envie mulheres da metrópole para povoarem as terras da colônia. Desta feita, inicia-se um processo pelo qual eram enviadas órfãs, e outras mulheres portuguesas, para casarem com os que aqui viviam e desta forma gerarem filhos “legitimamente” portugueses.
Oribela, personagem interpretada por Simone Spoladore, personifica as mazelas e dificuldades encontradas por essas mulheres traficadas pela colônia, que eram forçadas a casar, procriar e servir seus maridos em uma terra desconhecida para elas. Obrigada a casar com um homem mais velho, Francisco de Albuquerque, interpretado por Osmar Prado, Oribela se vê diante de um confronto onde sua fé e suas crenças são colocadas em xeque.
A luta para retornar ao seu país de origem é outro fator importante na obra. Insubmissa Oribela sofre por não aceitar a realidade a qual é feita viver, antes luta ardentemente para retornar a pátria. Entretanto, é impedida de realizar seu sonho. Após “conformar-se” com sua condição, Oribela termina o filme assumindo o papel para o qual foi designada e dá a luz a um filho, tornando-se, assim, uma