Resenha crítica do filme juno
O que chocou os americanos, conservadores de pai e mãe: a menina não hesita em sua decisão; seu único pé atrás diz respeito ao casal ideal para a criação de sua filha. E não esconde que a gravidez, para ela, é como uma dor de dente da qual não vê a hora de se livrar. Não a dádiva sagrada por que casais em sintonia de interesses vivem a esperar.
E mais: os pais da adolescente apóiam sua decisão e não dão a entender, em nenhum momento, que a gravidez precoce e a doação da criança são sintomas do fim dos tempos. E não se trata aqui de intelectuais, hippies ou outro tipo de exóticos automaticamente rejeitados pelo ianque médio. Os pais (na verdade, o pai e a madrasta) são americanos típicos da classe média: ele, ex-militar, vira-se com um negócio de aquecimento e ar-condicionado, ela, esteticista, ou menos.
Mas é a Juno de Ellen Page que mais apresenta contrapontos com o senso comum. Em suas decisões, suas escolhas, é sempre a mais madura do filme. Incluindo aí o casal de “pais perfeitos” que ficará com a criança.
Sua maturidade não esconde quem ela é, e o grande trunfo do filme é demonstrar que não precisa haver uma contradição aqui. Juno não é uma adulta fantasiada com camisetas de banda e tênis sujos. Ela é adolescente em tudo: em suas relações, no que come e no que diz. Mas bate de frente com o estereótipo com que a cultura popular gosta de pintar seus personagens entre os treze e os dezenove anos, pois é inteligente, sagaz, decidida.
E a gravidez indesejada? Isto, meu caro, nunca foi descuido exclusivo de gente com espinhas na ponta do nariz.
A maturidade é a questão do filme. Enquanto a menina Juno reconhece que uma balzaquiana rica e careta, em tudo tão diferente dela, tem o perfil para ser a mãe ideal para seu filho, o futuro pai engole a idéia de adotar a criança