resenha crítica do filme fale com ela
Ana Costa1
RESUMO:
O texto trata da arte do cineasta Pedro Almodóvar, fundamentando nos conceitos de feminino e barroco. No que se refere ao primeiro, traz tanto o desdobramento da histeria, em diferentes filmes, quanto a referência aos gozos. Destes, propõe sua aproximação com a arte barroca, como expressão possível do corpo gozante.
PALAVRAS-CHAVES: Corpo. Gozo. Barroco. Cinema.
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Professora Visitante do PPG em Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Analista
Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA).
Psicanálise & Barroco – Revista de Psicanálise. v.5, n.2: 77-84, dez. 2007
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A arte de Almodóvar
Almodóvar desenvolve a rara arte de narrar um mesmo tema, de forma sempre renovada e visceral. Quem não sabe sobre o quê tratará seu próximo filme? No entanto, é sempre uma surpresa cada dobra, cada véu, cada segredo, – La flor de mi secreto – na árdua tarefa, que parece ser a sua, de tentar desvendar um certo enigma do feminino. Proponho-me, neste artigo, a acompanhar uma determinada passagem, realizada pelo cineasta, de uma apresentação da histeria - nos filmes iniciais - para o tema do gozo feminino.
Mas, para além disso, este autor consegue interpretar um espírito contemporâneo - completamente imerso nele, de dentro dele - a tal ponto que nos confundimos na sua ficção. Em seus primeiros filmes parecia mais evidente o efeito de non sense e ironia. Nos atuais, esse mesmo non sense não nos surpreende e, ao contrário, nos faz chorar. Tratarei de dois de seus filmes que fazem um contraponto entre si na temática do feminino: são eles Tudo sobre minha mãe e Fale com ela.
Inicialmente, apresentarei algumas idéias que me ocorreram ao assistir Tudo sobre minha mãe, que me fizeram pensar num certo desdobramento da histeria no tempo: esta não se representa sempre da mesma forma e se modifica conforme os contextos. O filme trata da personagem chamada Manuela, que perde seu