Resenha Cr tica
O documentário brasileiro “Tropicália”, direção de Marcelo Machado, traz um rico material e depoimentos inéditos sobre o movimento cultural que rompeu com a arte conservadora, tratando da situação política do país na Ditadura utilizando a música também como forma de protesto. O filme começa com Gilberto Gil e Caetano Veloso cantando Alfomega, para um programa de televisão de Portugal em 1969. Em seguida o apresentador pergunta aos pilares do movimento “o que é o Tropicalismo?” e a resposta vem de Caetano “Uau”. Realmente não haveria uma resposta objetiva, as letras das canções eram inovadoras, com jogos de linguagem, se aproximando da poesia dos concretistas. As mensagens das letras eram codificadas, exigindo uma bagagem cultural para que fossem compreendidas. "Alegria, Alegria" de Caetano Veloso, como outras músicas tropicalistas, não tem sentido óbvio, porém carrega em sua letra preocupações da juventude da década de 60.
A intenção era chocar. O protesto era contra a música brasileira bem comportada, por meio de performances caracterizadas pelo excesso: roupas coloridas, cabelos compridos e uma mistura da cultura brega, do rock psicodélico, da música erudita, da cultura popular, entre outros, dando conta de várias manifestações da cultura nacional. O som da guitarra elétrica convivia com violinos e com o berimbau. A Tropicália não era só uma nova modalidade musical, mas principalmente uma nova forma de agir e de participar do cenário cultural nacional, com ares críticos e transformadores. Não era contra a Bossa Nova que esta pretendia se insurgir, e sim contra a paisagem morna, entediante e de certa forma reacionária que se instaurara nos meios musicais submetidos pela MPB. Alguns artistas se deram conta, então, da necessidade de abalar este contexto, apropriando-se das guitarras vibrantes do rock ou até mesmo dos embalos da Jovem Guarda, então liderada por Roberto e Erasmo Carlos.