Resenha: cosmópolis

O cinema é a arte do imponderável. Afinal, o que poderia acontecer quando um consagrado diretor, famoso pela violência e tensão psicológica, se junta a um ícone teen para adaptar um livro de forte cunho sociológico? Nem mesmo o admirador mais otimista de Cronenberg ou a mais apocalíptica crepusculete imaginaria que o resultado seria tão visceral quanto Cosmópolis; um filme imprevisível como sua premissa e pesado como esse texto. A história se passe em um dia na vida de Eric Parker (Robert Pattinson), um jovem bilionário egocêntrico, que deseja cortar seu cabelo no outro lado da cidade. Para isso, terá que atravessar a imprevisível cidade de Nova York, cruzando pelas pessoas que a fazem acontecer e ser a “capital do mundo”. Contudo, perante a estranha certeza que alguém está armando um atentado para matá-lo, aquele que seria mais um dia comum para o gênio das finanças, se transformará nas vinte e quatro horas mais decisivas de sua vida. Mais do que um ensaio sobre o futuro bem próximo, Cosmópolis é um filme de difícil digestão. Ao explorar constantemente o caos externo em conflito com a confortável calmaria da limusine de Parker, o diretor cria uma atmosfera vertiginosa, inclusive apresentando seus personagens angulados acima dos seus rostos, engrandecendo e distorcendo-os na mesma medida. Além do mais, sua marcha lenta enfatiza os diálogos, que forçam o julgamento moral do espectador numa reflexão acerca do comportamento humano, enquanto anunciam a tragédia iminente. Portanto, é justamente a crescente tensão a principal responsável por deixá-lo envolvente. Sem dúvidas, um mérito do brilhante design de som, o qual aposta no silêncio enlouquecedor quebrado pelo rangido estridente de uma porta metálica ou a pulsação de uma bola de basquete como o prelúdio para o inesperado. Já a trilha sonora, por sua vez, é bem sutil, mas não acrescenta nada de novo à trama, seguindo a mesma linha de Trent Reznor. O lado metafísico do filme também tem papel significativo na