Resenha Boaventura de Souza Santos
RESENHA
A geografia, que é a ciência do espaço, testemunha bem esta transformação intelectual e cultural. Enquanto na década de setenta a geografia tendera a reduzir o espaço às relações sociais ocorrendo no espaço e, por isso, quase perdera o seu próprio espaço cientifico no seio das restantes ciências sociais, sobretudo da sociologia e da economia, nos últimos anos voltou a recuperar a dimensão espacial para investigar a sua eficácia especifica sobre as relações sociais.
O desenvolvimento das tecnologias da produção, da informação e da comunicação fez com que se criassem simultaneidades temporais entre pontos cada vez mais distantes no espaço, e este fato teve um papel estruturante decisivo, tanto ao nível da prática social, como ao nível da nossa experiência pessoal.
O espaço parece transformar-se no modo privilegiado de pensar e agir o fim do século. Todos os conceitos com que representamos a realidade e a volta dos quais constituímos as diferentes ciências sociais e suas especializações, todos estes conceitos têm uma contextura espacial, física e simbólica, que nos tem escapado pelo fato de os nossos instrumentos analíticos estarem de costas viradas para ela, mas que, agora, é a chave da compreensão das relações sociais de que tece cada um destes conceitos.
São vários os modos de imaginar e representar o espaço.
Dentre eles, o Autor seleciona os mapas e, nestes, os mapas cartográficos. Parto deles para analisar um fenômeno marcante do Estado e da sociedade modernos, o direito. A comparação proposta é entre mapas e direito. O direito, isto é, as leis, as normas, os costumes, as instituições sociais, um modo especifico de imaginar a realidade que, no entender do Autor, tem muitas semelhanças com os mapas. A análise de tais semelhanças pressupõe,